Sabias que

enquanto dormias gostava de te olhar, de ouvir a tua respiração e passar os dedos no teu cabelo ?
Que essas noites de guarda em que te tinha só para mim fizeram com que aprendesse a gostar de dormir acompanhada?
Que gostava de acordar de manhã antes de ti só para te ver despertar?
Que ainda hoje não consigo descrever o que sentia nesses momentos?

Tudo isto era repentinamente interrompido pela tua saída lá de casa de encontro á tua rotina.
Na tentativa de prolongar aqueles ultimos minutos ficava a observar-te enquanto te arranjavas.

Foste sempre tu que rodaste a chave da porta.

Seguia em silencio até á janela para te dizer adeus, mas tu nunca olhaste. Só o azul do céu e do mar sabiam que eu estava ali.

O quarto ficava sempre desarrumado, eu gostava daquele desalinho dos momentos acabados de viver, não queria limpar os sinais da tua presença, sem os quais eu não fazia sentido.

Como uma criança, fazia o teatrinho: tu só ias trabalhar e á noite estarias novamente nos meus braços.

Malditas portas que existem entre nós!
Malditas pessoas que te encontram e que te falam, enquanto eu tenho que seguir na tua ausência e na lembrança da tua voz!
Malditas pessoas que sabem de ti aquilo que eu desconheço!
Malditas pessoas que falam mal de ti enquanto eu ainda te admiro!
Malditas pessoas que te escutam, que te tocam, enquanto eu olho as tuas fotos!

Tão perto e tão longe de ti.

Fecho os olhos e vejo-te.
É noite. Estamos de mãos dadas. Cheiro o fumo do cigarro acabado de acender, sinto o sabor do brandy nos teus lábios.

Tenho-te aqui num sitio onde não há ninguém.

Não consegui ou não tive tempo, não sei, para abrir a porta secreta onde te proteges do mundo.

Então finjo que a encontrei, abro-a suavemente, entro e adormeço e agora és tu quem guarda o meu sono.

2 comentários:

Brunhild disse...

:)

Lindo...

Bruno Ramalho disse...

ui... Muito bonito! :)

temos veia.