Querida M.,

No outro dia, a meio de uma das nossas conversas, perguntaste-me se eu não tinha medo de ficar sozinha. Muito prontamente, respondi-te que não. E fui sincera. No entanto, desde essa altura, a pergunta não me tem saído da cabeça e começo a questionar-me se não me terei precipitado a responder.

Quando comprei a minha casa, senti-me dividida. Por um lado, senti uma enorme alegria por ter condições para comprar uma casa, linda, sozinha. Um espaço, físico, só meu. Senti-me independente e orgulhosa de mim mesma.
Mas, por outro lado, foi quando me apercebi, pela primeira vez, a sério, que o sonho de uma casa a dois, filhos, etc., estava cada vez mais distante. Foi uma altura muito difícil, por estes e por outros motivos.

Senti a solidão com toda a sua força, pela primeira vez na vida. E digo-te, não gostei e não foi fácil.
Quando nada ou ninguém preenche o vazio que sentimos, chega a ser desesperante. Por mais que se procurem forças, estas parecem não existirem. E, por muito que tentasse, não me conseguia agarrar a nada. Por mais que me fizessem e dissessem, nada resultava.
Foi perdida na minha solidão que eu cheguei à conclusão que eu só posso contar comigo. E que a solidão é um estado e não uma condição. Só tive de descobrir o que me deixava naquele estado. Algo que eu estava farta de saber mas que me recusava a admitir.

Medo de ficar sozinha, não tenho. Ter alguém ao meu lado lá em casa, por prevenção, no caso de aparecer uma centopeia, não me diz nada. Prefiro enfrentar a minha fobia em relação a esses bichinhos asquerosos do que ter alguém a fazer-me de botija.

Mas também sei que não é a essa solidão que te referes.

No entanto, encontrar alguém que olhe para nós, embevecido, como aquele senhor, na mesa ao nosso lado, olhava para a esposa, como tão bem reparaste, não é para todos.
Já tive alguns a olharem assim para mim. Mas só de uma das vezes dei por mim a retribuir o mesmo olhar. Olhares daqueles não se fingem, surgem naturalmente, quando o sentimento é verdadeiro.

Portanto, se me perguntares se eu não tenho medo de ficar sozinha. Eu respondo que não. Nenhum. Agora, se me perguntares se tenho medo de ter desperdiçado a minha oportunidade de ser feliz e de não (conseguir) voltar a sentir o mesmo? Tenho, muito.

3 comentários:

Carpe Diem disse...

Só posso dizer que não tenhas medo pq tu tens mt valor, basta que acredites em ti e deixa-te ir, n tenhas medo de arriscar e sê feliz :)

Ortlinde disse...

....puxa que lindo este post....

Querida Brunhild,
"medo de ter perdido uma oportunidade de ser feliz"? é uma história do passado?
Ontem alguém nos disse que a vida é ciclica, certo?
então pode ser que se voltem a encontrar, caso isso não aconteça é porque o teu futuro não é com essa pessoa.
Quanto á solidão aprendi há muito pouco tempo, que a pior é aquela em que nos sentimos sozinhas quando temos alguém ao lado.

Brunhild disse...

Exactamente o que eu não quero, uma solidão acompanhada. ;)

As pessoas, quando entram na minha vida, jamais voltam a sair. Mas, qt a isso, não me parece que vá acontecer.
Muita coisa foi dita. Há palavras, silêncios, atitutes que magoam muito...
E, há mto que deixou de ser sobre "nós", ou "ele", e passou a ser sobre "mim", e na pessoa que me tornei depois: um pequeno monstro, muito feio e mau, mesquinho.
Há um prazer perverso em fazer, e ver, a pessoa que se ama, sofrer. Só por vingança.
Todos estes sentimentos tomaram conta de mim e me transformaram em alguém que eu nunca pensei que existisse cá dentro. Eu queria parar e não conseguia. Tudo aquilo me estava a consumir, a corroer. Eu sentia-me prestes a implodir a qq momento.
Até que a minha melhor amiga [Tinha de ser ela... :) Criaturinha extraordinaria...], me diz, do nada e mto naturalmente (Textualmente): "Eu sei que tu dizes/escreves coisas que não sentes. Fazes porque estás magoada e revoltada. Até acredito que te apetecesse sentir e fazer essas coisas, mas não consegues. Eu conheço-te e sei que não és assim.". Eu mal tive tempo de fechar a janela de conversação (foi pelo messenger) e chegar ao quarto-de-banho antes das lágrimas começarem a correr certinhas. Umas lágrimas gordas e pesadas, de meses de contenção. Desatei num choro compulsivo e catártico.
É engraçado como somos mais vulneráveis do que aquilo q pensamos; Como precisamos q algum valide aquilo q somos...
A partir daí resolvi resgatar-me, antes q fosse tarde.
Isolei-me, recolhi os cacos, colei, reconstrui... Forgive (me) and forget!

E assim tem sido, um processo, um percurso. Pé ante pé.
Mtas vezes ainda dou p mim a olhar para trás e com uma vontade enorme de correr atrás do q já foi. Mas, se já foi, é pq já não é. Logo, não há nada ali.
[E ontem tomei mais uma decisão nesse sentido. Hoje escrevo sobre isto, que é um óptimo sinal.]

Por isso, a única solução, é continuar. E, se às vezes, é mto difícil, caminhar pelo desconhecido e pelo incerto. Outras vezes, numa esquina, temos surpresas agradáveis. :)

Tinhas razão: gostei de conhecer o Paulo.
Tal como um bom vinho, ainda estou a degustar a noite de sábado. Imprevistos, reviravoltas, coincidências, boa música e boa companhia! Há melhor? Não há! Talvez escreva sobre a noite de sábado. Talvez não... Nunca sei! :)

Ah! Eu tb preciso de conhecer gente nova e frequentar sítios diferentes... :)

Boa férias! Aproveita bem o ócio e o dolce fare niente... :)