a razão de Brunhild

Brunhild pediu-me que viesse até aqui dizer-vos que está bem e que não há motivos para preocupações. Podem todos ficar descansados.
Ah! E que ficou muito sensibilizada com os miminhos que tem recebido.

Brunhild é assim mesmo: ri e chora com a mesma intensidade, sente demasiado, não tem meio termo, ou é muito bom ou é muito mau, não sabe encolher os ombros e seguir, não sabe ser assim-assim. Entrega-se, voa, salta, tropeça e cai, dramatiza, descabela-se, diz que desiste, diz que morre e morre mesmo. Mas volta sempre, qual fénix renascida das cinzas. Não está na sua natureza desistir.
Dêem-lhe tempo e algum espaço.

Não a pressionem porque pode zangar-se. E nós não gostamos nada quando ela se zanga, pois não?
Nem lhe façam perguntas senão ela foge.
Deixem-na andar. É uma fase difícil para ela e a vida troca-lhe as voltas.
Mas ela não gosta de grandes alaridos, prefere fazer as coisas à sua maneira, sozinha.
No entanto, não está sozinha, tem-me a mim, se precisar. E, se eu não souber ajudá-la, saberei de certeza recorrer a ajuda externa.

Quando ela chorar, deixem-na chorar. É sinal que está viva, que sente, que o coração, apesar de muito ameaçar deixar de bater, continua a fazê-lo.
Quando ela sorrir, sorriam com ela. Porque ela gosta de sorrir e de ver sorrir. É algo que a aquece, que a conforta.

Brunhild é assim: precisa e contenta-se com pouco. Com pouco, sorri. Com pouco, chora. Com a mesma facilidade com que a fazem feliz, também a magoam.
Acho que ela não é de cá.
Por diversas vezes se aproveitaram dela, por diversas vezes lhe disseram que era dissimulada, que pessoas como ela não existiam. Então, ela aprendeu a mascarar-se. Curiosamente, assim, as pessoas já acreditam. Curiosamente, sempre que tira a máscara, acaba por ouvir as mesmas acusações. De tantas vezes ouvir dizer que não existia, acho que acreditou.

Na verdade, Brunhild já está habituada a que ninguém repare nela. Os elogios são sempre para mim: bonita e inteligente.
Eu já lhe disse que a beleza não é minha, é dela. É ela quem encandeia. E que a inteligência é sobrevalorizada porque ela se resguarda atrás de mim. Se ela se mostrasse, talvez também recebesse alguns. Mas ela não quer. Prefere proteger-se, ficar escondida, piscando o olho sorrateiramente somente a quem escolhe.

Diz que vive fora do mundo, que este não está preparado para ela. E, por outro lado, ela não está preparada para o mundo.

Sempre esperou alguém como ela. Alguém que a conseguisse ver, que acreditasse e que fosse incapaz de a magoar. Alguém que a protegesse e a levasse pela mão a ver o mundo.
Hoje já não espera porque deixou de acreditar. Ou diz que deixou. Ainda não consegui decifrar. Conheço-a como ninguém, mas continua a ser difícil saber o que sente.

Seja como for, é certo que voltará. Mais depressa do que ela julga.
Não tardará muito, andará novamente por aí a rodopiar e a fazer das dela.
Acreitem em mim. E sobretudo, acreditem nela.

2 comentários:

Bruno Ramalho disse...

dava um filme isto. (nem que fosse pelo título)

Eu acredito na moça, e em ti, e na outra, nelas todas! :D

Ortlinde disse...

fico mais tranquila assim.
diz-lhe para deitar tudo cá para fora,não vale a pena ficar com restos a apodrecer!