Crónicas de Praga: o adeus

Hoje acordei com uma dor estranha...
Saí para a rua, para me despedir de Praga, debaixo de um céu cinzento.
Segui por Dlouhá até Josefov, o bairro judeu. Adeus!
Desci por Parizska, depois Siroká, até à margem do Vltava. Adeus, Rudolfinum!
Depois Kaprova até Staromestske namesti. Adeus!
Esperei pelas 11h, para assistir, pela última vez, ao aparecimento de Jesus e dos Doze Apóstolos no Relógio Astronómico. Adeus!

E aquela dor...
Ouvi uma música, ao longe. Segui-a. Era um órgão de tubos.
Entrei na igreja, onde decorria uma missa. Tomei um lugar e sosseguei com o canto do Padre, acompanhado daquele som poderoso, vindo do órgão.
Quando terminou, o Padre dirigiu-se à porta, para se despedir das pessoas.
"Não quero ir", apeteceu-me dizer-lhe. Mas, adeus!

Desci até à Ponte Carlos, pensei em fugir até ao Palácio de Praga, mas as forças faltaram-me. Fiquei a meio da ponte. Dividida.
Despedi-me do Vltava, enquanto fumava um cigarro. Adeus!

Continuei até ao Teatro Nacional. Adeus!
Segui Národní até Václavské námesti. Adeus!

"Não me deixes ir", pedi. E a cidade prendeu-me nos seus braços. Aconchegou-me. Emaranhou-me.

Sobrevoo Praga.
A cidade que me recebeu ferida, maltratada, magoada. Que cuidou de mim. E que agora me devolve.
Uma cidade que trago para sempre dentro de mim.
Um bocado de mim, que deixo nesta cidade.

Adeus Praga...

2 comentários:

Carpe Diem disse...

Que texto poético, gostei!! Teve o seu quê de Pessoa com a melancolia de Al Berto e a intensidade de um Baudelaire :)

Espero que não tenhas deixado em Praga o melhor de ti, deixa apenas um bocadinho(zinho).

Brunhild disse...

Exagerado!... :D