Crónicas de Praga: checos & checas

Finalmente o texto pelo qual todos os meninos esperavam, aquele onde falarei das checas.

O povo checo é um povo simpático e muito educado. Talvez a palavra que melhor os defina, tal como à cidade, é polido. Aliás como não poderia deixar de ser. Existe sempre uma relação muito forte entre as cidades e as pessoas que as habitam. Uma é a cara do outro (e vice-versa). Haverá melhor exemplo que o nosso: a cidade do Porto e os Portuenses? O mesmo se passa com todas as cidades do mundo. Excepto, talvez, com as cidades mais cosmopolitas, que se descaracterizam um pouco. Mas mesmo nessas, esta relação existe. Poderá não ser tão latente, mas existe.

Como já referi diversas vezes, a língua é incompreensível. Eles são muito poupadinhos nas vogais. O meu cérebro não reteve nenhuma. Excepto Vltava, que já levava. E Rudolfinum, claro! Mas esta não é checa.
No entanto, a barreira linguística é facilmente ultrapassada porque todos os Checos falam inglês. Ou pelo menos, dão uns toques. Mesmo o pessoal mais velho.

Aliás, esta viagem também foi muito benéfica para praticar o meu inglês. E como eu estava a precisar!
Nos primeiros dias, antes de me dirigir a alguém, construía mentalmente as frases numa pronuncia impecável. Pensava eu! Porque quando abria a boca para falar, mais parecia um espanhol a tentar falar inglês. Resultado, ninguém me percebia!
Mas era só a minha timidez a fazer das suas. Arrumei com ela ao segundo dia e a situação compôs-se.

Como dizia, os Checos são muito simpáticos.
Por quatro vezes (só?!) me viram, numa esquina qualquer, a rodar o mapa, ora para a esquerda, ora para a direita, ora do avesso, e a espreitar para as placas das ruas, tentando situar-me, e vieram em meu auxílio.
São muito atenciosos. Gostei deles!

Nota-se que é um povo com cultura, com educação, com substrato, conteúdo. Bem diferentes de nós, portanto, que somos um povo com tendência a deixar-nos levar pelas (falsas) aparências.
Reparei nisso, logo no primeiro dia, no Rudolfinum.

No nosso país, os assistentes de sala e empregados da bilheteira são, por norma, jovens, de preferência, bem parecidos.
Em Praga, não. São pessoas mais velhas, na casa dos 50 e 60 anos. Uns doces!

Quando me preparava para entrar na sala, feita labrega com o meu casaco à Lindsay (Freaks & Geeks) na mão, muito educadamente, a senhora me informa que podia deixar o casaco no bengaleiro. Eu já tinha reparado nisso mas não o fiz porque fiquei intimidada pelos visons. Fiquei com pena do meu casaco, lá, no meio deles, pobre e abandonado.

Mas os Checos não são elitistas. Apesar daquele luxuoso aparato, eles são simples. Os visons surgem por necessidade, para combater o frio. E não, por luxo, ou por uma questão de status.
Esta é a grande diferença entre nós e os Checos (ou os povos daquela Europa).
A cultura é acessível a todos e está enraizada. Um bilhete para a ópera (100 CZK) custa quase tanto como um caffe latte na Starbucks (85 CHZ).
Não é algo exclusivo de classes mais privilegiadas ou hábitos de pseudo-intelectuais.

De uma das vezes que andava perdida por Praga, vi, numa janela, uma senhora de idade. Até aqui nada de novo. Também as há em Portugal. Mas aquela senhora prendeu-me a atenção.
Depois disso, comecei a reparar nas pessoas de idade que passavam por mim.
Aqui, os velhinhos têm olhares sofridos, de quem passou uma vida a lutar para sobreviver. Os velhinhos checos têm olhares vivos, tranquilos, de quem viveu e continua a viver, com dignidade.

Lembro-me de uma velhinha que me deu passagem, quando me vinha embora, já a puxar o trolley. Baixinha, envergando um vison, já curvada pelos anos e andando devagar com a ajuda de uma bengala, como quem tem todo o tempo do mundo. Quando parou e se virou, para me deixar passar, reparei naqueles olhos brilhantes, azuis, vivos, simpáticos, sorridentes. Lembram-se de ver alguma vez, um velhinho assim, em Portugal?
Gostei particularmente do seu cabelo. Parecia uma nuvem branquinha, fofa, a pairar sobre a sua cabeça.
Quando a minha nuvem negra começar a perder a cor, espero que se transforme numa nuvem igual àquela.

Gostei dos gajos checos. Não têm as bonitas feições das checas. Mas têm um "saber ser" e "saber estar" sedutores.
Quando passam por nós rua, sorriem, agradavelmente. Olham-nos nos olhos. Não nos miram dos pés ao peito, esperando que o objecto passe, para o poder avaliar à retaguarda.
Soube bem, para variar.
Digamos que não são particularmente bonitos mas têm qualquer coisa...
Contudo, não me apaixonei nem uma vez sequer.
Verdade seja dita, ou bem que reparava na cidade, ou bem que me perdia de amores pelos checos. E, como eu tenho prioridades na vida, optei por perder-me só pela cidade.

As checas... São bonitas, de facto. Não são tanto quanto me tinham dito mas são. Digamos que em média são mais bonitas. É difícil encontrar uma checa que seja feia. E, de vez em quando aparece um ou outra que é mesmo muito bonita.
Têm feições muito delicadas, olhos claros, tez clara, loirinhas.
Mas vestem-se mal!!!

10 comentários:

Ortlinde disse...

esta tua viagem foi muito romântica e inspiradora!

e isso das prioridades é uma treta!:D e estás a mentir quando dizes k nao te apaixonaste!

Apaixonaste-te por Praga, ou então não a tinhas descrito com tanta emoção! certo?!

eh eh apanhei-te!!

Carpe Diem disse...

Eu n estava desesperado por este texto, queria era ver fotos mas isso deve vir em cenas dos proximos capitulos, certo??

O que descreves da lingua e de tentar falar inglês era eu em Paris há 2 anos a arranhar o Francês de 8 anos de escola para descobrir q há um tuga em cada esquina :)

Um ultimo apontamento para dizer que concordo ctg a 100%, as gentes do Porto (e Norte em geral) são bem mais afáveis e simpáticas (dizer "dadas" n me parece bem apesar desse ser o sentido) que as de Lisboa... bem hajam!!

Beijos
Nuno.

PS: Não troco as tugas pelas checas, oh n troco n!!

Brunhild disse...

ahahahahah
Busted!:D

Bruno Ramalho disse...

"Mas vestem-se mal!!!"

bahahahahahahaha ;DDD

Ortlinde disse...

eles tb não as querem vestidas!! :D

Bruno Ramalho disse...

LOL, depende dos trajes! :D

Brunhild disse...

ahahahahaahahaha

Ortlinde disse...

já estou a ver....as nazarenas e os 7 saiotes...curioso....:)

Ortlinde disse...

ah!! não são nazarenas, são checas !!

Eduardo Santos disse...

A soma de todas as bruxuras de promoção à cidade não farão melhor figura e transmitirão de forma tão "física" a realidade de Praga como a que foi aqui descrita.

Parabéns pelo texto e continuação de boas aventuras por esse velho continente fora!