greatest love of all

Ontem à noite, quando me dirigia para casa, ainda a pensar naquela nova sensação, acabadinha de sentir, pensei em escrever sobre isso, hoje.
Mas, hoje de manhã, ao ler o primeiro texto da Ortlinde, pensei seguir aquele rumo e aproveitar para escrever sobre algo que me azucrina a mente.
Indecisa, feita tolinha no meio da ponte, fiz o que sempre faço quando fico indecisa: amuei. Decidi simplesmente não escrever, pronto!

Ainda amuadinha, dei uma vista de olhos pelos jornais diários e dei com este texto: Amor de mãe contra poderes brutais (sobre a estreia de “A Troca”, novo filme realizado por Clint Eastwood e protagonizado por Angelina Jolie).

“Christine Collins (Angelina Jolie) é uma heroína “eastwoodiana” até à medula, uma justiceira solitária e individualista decidida, que enfrenta forças muito mais poderosas do que ela, tendo como única arma, não uma Magnum ou um Colt, mas o amor de mãe.”
Tinha sido uma amostrinha do que eu tinha sentido na noite anterior, enquanto embalava a pequena nos braços. E nem sou mãe dela! Sou só uma tia emprestada.
Tinha de escrever o texto!

Desde criança que eu adoro crianças.
Lembro-me de quando o meu irmão nasceu, de o ir ver à maternidade e de querer pegar nele ao colo. Eu com cinco anos e ele com quatro quilos. Já na altura ele era matulão. Lembro-me do meu pai querer tirar-nos uma fotografia, de demorar mais tempo do que era esperado e de eu começar a ficar à rasca com o peso. Esta é a primeira memória que tenho do meu irmão. Bonita, não?
Lembro-me do nascimento da minha prima e de ficar a adorá-la, qual menina Jesus, enquanto ela dormia.
Lembro-me do nascimento dos meus primos e de querer andar sempre com eles ao colo.
Lembro-me, já adolescente, do nascimento fora de tempo da minha irmã e de a encarar como uma irmã-filhota. Dava-lhe banho, secava-lhe o cabelo e fazia-lhe penteados, comia-lhe a Cerelac e a Milupa, vestia-a, adormecia-a. Era a minha bonequinha.
Lembro-me do nascimento do meu priminho caçula, o terrorista. Lembro-me dele sempre agarrado às saias da mãe e de não ir ao colo de ninguém, excepto ao meu e ao do meu pai. Ao do meu pai porque sabia levá-lo com a brincadeira. E ao meu porque, segundo a minha tia, era a única que falava baixinho, num tom suave, que o encantava.
Lembro-me da gravidez e nascimento da minha afilhada, do irmão da minha afilhada e, por último, da pequena. Os filhotes das minhas amigas.

Adoro crianças, é certo! Mas não tenho paciência para grávidas. As grávidas são as pessoas mais chatas e mais egoístas ao cimo da terra. Durante nove meses não pensam ou falam noutra coisa senão nelas e na sua enorme barriga. O mundo podia estar para acabar, elas não se interessariam. Durante aqueles nove meses, o Sol é substituído por elas. O mundo terá de girar à sua volta.
Ok, não são todas, mas a sua maioria, é assim.

No outro dia, pela primeira vez, ouvi da boca de uma grávida que não gostava de estar grávida e que mal podia esperar por ter a criancinha.
O meu impulso primário foi saltar da cadeira para lhe dar um abraço e felicitá-la pela racionalidade e pela coragem de ser sincera. Mas controlei-me e não o fiz, obviamente.

Por favor! As mulheres são paranóicas pelo corpo. Que mulher, no seu perfeito juízo e com hormonas sossegadas, acha giro engordar no mínimo dez quilos em nove meses, sem certezas de os vir a perder algum dia, perder a elasticidade na barriga e no peito, ter de se besuntar de creme pelo menos três vezes por dia e mesmo assim correr sérios riscos de ganhar estrias, ficar com cara de meia lua (ou cara de grávida), andar com os pés e mãos inchadas a toda a hora, os enjoos, perder a sua autonomia e independência, não sendo capaz sequer de cortar as próprias unhas dos pés, e as dores de parto, com ou sem epidural?
A única razão pela qual acham tudo isto bonito é porque têm as atenções todas nelas. De bonito, nada tem! A gravidez é só um mal necessário, o meio para atingir um fim. Não se iludam.

Depois nascem os rebentos...
A correr bem, comem e dormem, não fazem mais nada. E dependem de nós para tudo. Ao ponto de nem se ter tempo para tomar um banho descansada.Bonito? Uh huh!...
E, se por azar, a criança sofre de cólicas e berra horas seguidas, dias seguidos, semanas seguidas, levando os pais ao desespero? Por não saberem o que lhes fazer, por sofrerem por ver a criança sofrer, por se verem reduzidos à sua incapacidade e sofrerem com a sua impotência. Bonito?...
Já para não falar nas noites em claro. Porque dormir, torne-se secundário.

É nesta altura, que as mães, aqueles seres chatos e egoístas que foram durante nove meses, se revelam e se tornam os seres mais ternurentos, mais extraordinários, com a maior capacidade de dar e se anularem em detrimento daquele que se tornou o Sol da sua vida. Se tornam em leoas, detentoras da maior força existente, o amor de mãe.

“The most terrifying day of your life is the day the first one is born. (…) Your life, as you know it... is gone. Never to return. But they learn how to walk, and they learn how to talk... and you want to be with them. And they turn out to be the most delightful people you will ever meet in your life.” (Bod Harris (Bill Murray) in Lost in Translation)

Esta é a minha visão negra sobre a maternidade. Por essa razão, tem sido um objectivo continuadamente adiado na minha vida, chegando mesmo a estar totalmente posto de parte. Convenci-me que é muito melhor o papel de “tia”. Usufrui-se da companhia, acompanha-se o crescimento e educação, brinca-se com eles, e, quando eles começam a ficar impertinentes, “Vai à mãe, vai!”.

Aqui há tempos, andava eu na coboiada com o irmão da minha afilhada, a rebolar com ele no meio da sala, a ser criticada por ser pior que ele, tentando conquistá-lo para que me desse um beijo, sem resultados. Usei de tudo e nada! Até que, com a desculpa de querer ir espiar os passarinhos, pediu-me colinho. Uma vez no meu colinho, talvez por distracção, pousou a cabecinha dele no meu ombro e começou a fazer-me miminhos. Derreti-me! Pensei que, de facto, não há sensação melhor que aquela. Deve ser algo próximo daquilo que se sente quando o bebé é deitado, pela primeira vez, no colo da mãe. Foi muito bom. Era capaz de ficar ali para sempre. Sente-se uma ternura imensa por aqueles seres tão aparentemente indefesos, uma vontade de os proteger de tudo e de todos, uma força capaz de nos fazer ir ao fim do mundo por eles. A correr. Sem parar e sem preparação física.

Ontem, voltei a sentir o mesmo.
A pequena berrou de dores durante cerca quarenta minutos sem parar. A mãe, agitada, já não sabia que mais lhe podia fazer. Os olhos da menina rasos de água. Nada fazia efeito. Mais uma dose de Infacol, massagens na barriguinha, gotas doces na chupeta, sem roupa, no colo de barriga para baixo, no colo de barriga para cima, de lado… Nada resultava. Aquela cara de sofrimento apertava-me o coração. A minha amiga estava demasiado agitada para a conseguir sossegar, por isso, pedi que me deixasse tentar e peguei nela. Passados uns minutos ela sossegou. Talvez batida pelo cansaço. Começou a bater pestanas até que adormeceu no meu colo. E lá fui eu invadida por aquela mesma sensação ao olhar para aquela cara de anjo, tão sossegadinha, indefesa, inocente e ainda um pouco sufocada pelo berreiro que tinha feito.

No outro dia, enquanto me aborrecia a fazer zapping pela tv, passei por uma entrevista da Oprah às estrelas d’ O Sexo e a Cidade. Sendo de uma das minhas séries preferidas, parei. Às paginas tantas, Sarah Jessica Parker fala sobre a maternidade e diz ser uma experiência que tem tanto de assustadora como de encantadora, tratando-se de um desafio permanente, altura em que nos apercebemos do quanto sabemos e do quão pouco sabemos.
Eu acho que a mulher chega a uma determinada altura da sua vida e precisa desse desafio. É natural. É subir o próximo degrau. Caso contrário, corremos o risco de nos tornarmos seres egocêntricos, concentrados somente no eu, preocupados com a nossa vidinha. Sinto-me tão ridícula às vezes, com as preocupações sobre as quais versam a minha vida. Irei preocupar-me o resto da vida com trivialidades e a perder-me em pensamentos banais de quem não tem mais nada do que fazer com a vida? Tem de existir algo mais que isto.

Sim, a maternidade assusta-me.
Assusta-me colocar mais uma criança no mundo, um mundo cada vez mais cruel e insensível. Assusta-me obrigar alguém a nascer e viver neste país, com um sistema de ensino nada estimulante, que mais parece uma fábrica de criar carneirinhos, com um sistema de saúde que mais parece um sistema de doença, um país de cunhas e chicos espertos. Assusta-me criar alguém no meio de tanta crise, quer financeira, quer moral.
Assusta-me poder falhar, não ter capacidade de lhe dar tudo o que precisa (bem diferente de lhe dar tudo o que quer).
Assusta-me a ideia de poder a vir sofrer, de ser demasiado sensível para este mundo, de não lhe conseguir dar o apoio, segurança e protecção necessária.
Assusta-me a praga que a minha mãe me rogou na adolescência: se eu tivesse um(a) filho(a), que este(a) fosse igual a mim.
Tudo me assusta e tudo são desculpas para ir adiando pensar no assunto.

Mas depois deparo-me com estes anjinhos no colo, sou inundada por aquele sentimento que não sei explicar, e dá-me uma vontade doida de também ter um. Mesmo correndo o risco da praga da minha mãe se realizar e dele(a) sair com um feitiozinho igual ao meu.

5 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com tudo o ke dizes, resta-me concluir ke a maternidade tem tanto de maravilhoso e fantástico como de assustador e desesperante.
(o berreiro prolongou-se até ás 23.30)

Ortlinde disse...

Brun,
tudo o que dizes é muito verdade!!!
Quanto aos teus medos, foram os meus e são os de muitas mulheres que conheço!
Não te assustes ser mãe é mesmo muito bom!

Ortlinde disse...

tenho uma filhota que já me leva o chá á cama quando estou doente!!!!
Lembro-me do dia em que ela nasceu, do dia seguinte e depois só me lembro dela outra vez a partir do ano e meio de idade.
Olho para as fotos e não me lembro daqueles dias...
Há uma parte da vida da minha filha que está completamente em branco....

Brunhild disse...

Oh! Ela estava tão sossegadita quando a deixei!... Acho que ela só gosta do colinho da tia Brun!... eheheeh
Bem, até às 23h30?! Naquele berreiro? Coitadinha dela! :( E de ti tb!

Humm... Talvez na minha lista "To Do" em 2010... Até lá, vou praticando! :D
Com os filhotes das amigas... :)

Bruno Ramalho disse...

que entrada tão bonita :D

e fico-me por aqui! eheheh