Crónicas de Praga: terceiro dia

Escrevo este texto, sobre o terceiro dia em Praga, no Café Franz Kafka, numa última paragem antes de me dirigir ao aeroporto, enquanto bebo um café, aromatizado com mentol, e chantilli por cima. Muito bom!

No terceiro dia, acordei cedinho, 9h00. A ideia era ir ver dois quadros do meu Monet, ao Palácio Veletrzny, em Praga 7, já bem afastado do centro.
Tive de ir de metro.
Senti-me a Charlotte (Scarlett Joahnsson) em Lost in Translation, ao olhar para o mapa do metro. Esta língua é incompreensível! Mas lá fui e lá conseguir chegar ao meu destino.

À saída do metro, assustei-me! Pensei ter saído em Brooklyn: muitos grafitties, prédios deslavados e uma estação de comboios. Medo!...
Mas como sempre, ao virar da esquina, um admirável mundo novo.
Este bairro, nos subúrbios, não é tão rico como o centro. Mas, ainda assim...

O museu é enorme e vale a pena.
O primeiro piso é dedicado à arte estrangeira do século XX: Klimt, Miró, Picasso e muitos outros que nunca tinha ouvido falar.
No segundo piso, Czech Art 1930-2000. Vi quadros e esculturas de artistas checos, muito boas.
No terceiro piso, Arte Francesa do século XIX e XX: Rodin, Degas, Renoir, Gauguin, van Gogh, Rousseau, Cézanne, Picasso (novamente), Matisse, Chagall e, obviamente, Monet. E muitos mais.

A pintura de Monet mexe comigo. Eu não percebo nada de pintura mas perco-me nos quadros de Monet.
Ver um quadro de Monet ao vivo e a cores é algo que não se esquece.

Passei a manhã quase toda no museu.
Pensei em regressar ao centro de tram para poder apreciar a vista mas achei melhor não arriscar, depois de consultar o mapa, já na paragem.
Regressei de metro.

De volta ao centro da cidade, voltei a perder-me pela cidade. Passeei, passeei, passei... Sempre de nariz levantado, com os olhos postos na arquitectura da cidade, que não deixa de me surpreender a cada esquina.
Talvez fosse o meu ar distraído e maravilhado, talvez fosse a minha fisionomia que gritava "não sou de cá", mas a verdade é que os checos sorriem-me quando se cruzam comigo. Eu sorrio também, como quem diz "cidade aprovada". Povo simpático, este.

Cansada e com frio, resolvi fazer uma pausa e entrar num dos muitos cafés da cidade. Bem diferentes dos nossos cafés.
Há cafés para todos os gostos: tradicionais (como este onde me encontro, tipo Magestic), vanguardistas, chiques e alguns Starbucks. Entre outros.
Sentei-me, abri o portátil e pedi um caffe latte. O empregado põe-se a falar para mim em checo, a apontar para o Eee pc e a rir-se. Eu, com cara de parva a olhar para ele, sem perceber patavina, fiquei com a sensação que me perguntava se era um Magalhães. Mas nunca irei saber...

Sempre que ouço os checos falarem uns com os outros, fico com a sensação que estão a conspirar algo. Imagino que são todos agentes secretos, empenhados numa grande missão: confundirem-me.

Quase todos os cafés têm WiFi gratuita para os clientes. E, em muitos, é permitido fumar. É só procurar.
Em relação ao tabaco, tenho a informar que não existem máquinas de tabaco, como no nosso país. Por isso, abasteçam-se durante o dia, nas muitas tabacarias da cidade. Porque, assim que o comércio fecha, não há tabaco para ninguém.
Eu comprei um maço de Slims local, por 65CHZ, na estação de metro, quando cheguei, que ainda dura.

Depois de voltar às ruas por mais uma hora, regressei ao hostel para descansar um pouco e trocar de roupa, para depois seguir para o Teatro Nacional e assistir à ópera.

Com tempo fiz-me ao caminho, já de noite.
Convencida que a cidade já não tinha segredos para mim, dei descanso ao mapa, deixando-o no bolso.
Ora, adivinharam! Perdi-me! Quase vinte minutos depois, a pensar que o Teatro ficava já ali ao virar da esquina, dou por mim de novo em Old Town Square.
A ver-me ficar sem tempo para comer qualquer coisa antes da ópera, rendi-me e saquei do mapa.
Não correndo riscos de qualquer espécie, porque a cidade é manhosa, joguei pelo seguro, evitando seguir por atalhos. Dirigi-me ao Vltava e segui pela beira rio até ao Teatro.
A vista para a outra margem, de noite, é tão ou mais bonita que a que se tem de dia. O castelo iluminado no alto é imponente.
Arrependo-me de não ter levado a máquina fotográfica e sinto saudades...

18h58, viro a esquina e chego finalmente ao meu destino. Vejo um café, mesmo em frente, onde me preparo para entrar e comer qualquer coisa.
Nisto reparo numa cena digna de um filme. E, mal sabia eu que também era personagem desse mesmo filme. Um casal a correr. Ela trajando um bonito vestido comprido, de gala. Ele, num elegante smoking. Dirigem-se ao Teatro, afoitos e entram. Nesta altura, estranho não haver movimentação nas redondezas e desconfio se não me terei enganado na hora da ópera. Pego no bilhete e Eureka!, enganei-me mesmo. Não era às 19h30 mas sim, às 19hoo.
Entro no Teatro quando se preparam para fechar as portas. Foi por pouco!...

Subo a enorme escadaria sempre lestrinha e, quando entro na sala, soam os primeiros acordes da Abertura.
Já com as luzes da sala apagadas, nem tento descobrir o meu lugar. Sento-me nas escadas e dali assisto ao primeiro Acto.

Esta encenação de Carmen data de 1999 e isso nota-se. É standard mas cumpre o dever.
A mezzo-soprano que faz de Carmen e o tenor que representa José foram em crescendo. Michaela foi absolutamente fantástica. A soprano tinha um timbre muito bonito. Escamillo foi mediano.
O coro adulto esteve razoável e as crianças, muito bem.
A orquestra foi competente.

Durante o intervalo, quando por fim me acomodei confortavelmente no meu lugar, é que pude reparar como o Teatro era bonito. Impressionante!

Já devo ter visto Carmen umas três vezes, no mínimo. Mas vale sempre a pena. Não é à toa que se trata de um grandes clássicos. Apesar do drama, não é pesado e denso. Tem árias lindíssimas e coros que ficam no ouvido.

No fim, fico com vontade de pintar os lábios de vermelho sangue, enfeitar o cabelo com uma flor a condizer e sair a despertar paixões. Mas, como a maquilhagem e as minhas flores ficaram em casa, regresso ao hostel.
Sigo pelo caminho mais longo, a trautear a Habanera...
Si tu ne m'aime pas, je t'aime... Si je t'aime, prends garde á toi...

1 comentário:

Carpe Diem disse...

Bem...começaste maravilhosamente o dia com esse Museu cheio de preciosidades e eu tb sou adorador incondicional de Monet, mas ao ler que tb tem Klimt (quais quadros?) fiquei cheio de curiosidade...doi tanto a inveja!!

Olha que eu com essas distracções das horas em viagem cheguei a perder um avião com malas e td, mas são estas coisas que depois nos fazem recordar as viagens :)

Ainda bem que estas a aproveitar ao máximo e eu entendo o pq dos sorrisos dos checos, é uma mulher linda do Norte carago!!

Beijos
Nuno.