sinto-me em casa

Não sei passar para o papel o que sinto quando vou a uma noite de poesia no Púcaros. Fazem-me sentir tanta coisa...

É o Sr. Manuel que nos saúda como se fossemos amigos há anos e, enquanto pedimos as bebidas, partilha uma história connosco. Ainda há pessoas assim?
Enquanto ele fala, eu perco-me no seu olhar, na forma como se entrega ao que está a dizer e a quem tem pela frente... Não, já não há pessoas assim.

São as pessoas que vão chegando e se sentam, umas ao pé das outras, mesmo as que não se conhecem. Tal como me avisaram na primeira vez que fui a uma noite de poesia: aqui não há lugares marcados, cada um senta-se onde houver lugar, somos todos amigos. E eu rendi-me imediatamente!

São as pessoas a conversarem, a trocarem livros que vão passando de mesa em mesa. Ou folhas soltas...

Bebe-se e fuma-se.

Assim que a noite começa, o silêncio.
O amor partilhado pelas palavras ou as palavras partilhadas com amor. Não sei. Tanto faz...
Às vezes tenho a sensação que as vejo deambular pela sala ou a libertarem-se do livro de quem as lê.

Alguém recebe o poema de olhos fechados, com ar carregado... Mas o poema é tão doce e belo.

Súplica
(Miguel Torga)

Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.

Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.

Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

1 comentário:

Carpe Diem disse...

Achei lindo este texto e muito poético... eu n conheço, ainda, o Púcaros mas da proxima vez n me escapa, ai n escapa n!!