bonequinha dos trapos

Esta mulherzinha está a possuir-me, com todas as implicações inerentes, boas e más. Estou a ficar com muito medo!... Dela e de mim. Mas, adiante!

Invariavelmente, todos os jantares lá em casa, passam pela conversa que o estúdio é muito bonito, é a minha cara mas... é um estúdio, se entretanto eu conhecer alguém tenho de mudar de casa porque não reúne as condições necessárias à vida de casal. Começa a chatear!...

Desta vez, como até estava bem disposta, ainda retorqui que, pela minha experiência, tinha sérias dúvidas que isso fosse acontecer mas, acontecendo, garantidamente, não seria esse o problema.

- Claro que sim, respondem-me. E, a título de brincadeira, ainda acrescentam: e até podes colocar o bercinho na lavandaria.
- Quê?!... Mas que bercinho? Eu não pretendo ter filhos...
- Não?! Mas tu adoras crianças!...
- Precisamente por adorar crianças, tomei esta decisão. Tenho perfil de tia... Além disso, cheguei à conclusão que não tenho a estabilidade necessária para ser mãe. Estabilidade emocional.

Até me engasguei com a lasanha quando as seguintes palavras entraram como flechas pelos meus sensíveis ouvidinhos:
- Oh! A estabilidade vem com o gajo.

Eu ainda olhei, na esperança vã de se tratar de uma piadinha. Mas, não. O comentário tinha sido sério.

Se eu não me encontrasse numa luta renhida com o pedaço de lasanha que teimava em me sufocar, não sei onde, ou como, aquela conversa teria acabado.

A conversa já se preparava para seguir os contornos de "os homens andam todos cegos" (e eu sem poder tomar as rédeas da situação, continuava sem reacção, roxinha, roxinha...) quando, o único gajo presente, se revela e diz, entre dentes, "os homens preferem olhar para baixo".
Eu até deixei de tossir! Foi instantâneo, remédio santo.
Teria ele noção do que acabava de dizer?...


E isto tudo para dizer o quê...
Para dizer que, se pensam que lá por me estar a tornar numa verdadeira fada do lar, vou acabar carochinha, estão muito enganados.
Por isso, não me tentem impingir maridos à força porque não vai resultar. Não é isso que procuro.

Deixem-me receber o pessoal, dar-lhes de comer e de beber.
Deixem-me sonhar e ir atrás dos meus sonhos.
Deixem-me curtir à vontade a minha casinha de bonecas. É tudo o que peço.

Até porque, como me disseram, eu também sou uma bonequinha!...

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