Então e eu?!... (beicinho)

Há algum tempo, em conversa com uma amiga, ela dizia-me que tinha pena de uma amiga nossa por esta não encontrar alguém. Achava que ela merecia e era isso que lhe faltava para ela se animar, uma vez que anda sempre cansada ou deprimida. (Nada de piadinhas, ok?!...)
Na altura, concordei. E continuo a concordar.

Quando me apanhei sozinha e voltei ao assunto, pensei: então e eu? Eu não mereço encontrar alguém?
Só porque não tenho feitio para ficar em casa a olhar para as paredes, a lamentar-me da vida, a suspirar por algo que não acontece, a deixar crescer as tranças, qual Rapunzel, não significa que também não precise, queira ou mereça.

Existe uma tendência generalizada para me considerarem uma pessoa forte, uma super mulher, e isso nem sempre, ou quase nunca, joga a meu favor (além de não ser totalmente verdade).

Em primeiro lugar porque me tomam como saco de porrada, alguém que tudo aguenta. E logo eu, que sou uma hemofílica sentimental. O mínimo toque provoca uma hemorragia que custa a estancar. Às vezes só mesmo com internamento hospitalar, nos cuidados intensivos e em ambiente esterilizado.

São as pequenas coisas, as pequenas atenções, que me tocam e me fazem feliz. Mas, também são as pequenas coisas, as pequenas faltas de atenção, que mais me magoam.
Se repararem, normalmente, é nas pequenas falhas que as máscaras das pessoas caem.
No entanto, não é do meu feitio andar sempre chateadinha com o que (não) me fazem. Se calhar devia ser. Devia ir vertendo à medida que ia enchendo. Mas não. Deixo o copo encher e, quando atesta, sai tempestade em copo de água. Por vezes, perdendo a razão.

Não acredito em grandes actos e atitudes megalómanas. Por norma tornam-se descabidas e soam a falso.
Prefiro detalhes… Digamos que tenho uma personalidade de estilo barroco.

Tenho de facto uma personalidade forte e um feitio que, segundo me disseram, condiz com a minha personalidade (whatever that means…), mas que a maioria tende a classificar de difícil.
Do meu ponto de vista, o meu feitio pouco tem de difícil. E acredito que, quem de facto me conhece, concorda comigo. É muito fácil lidar comigo, muito mais fácil do que aparenta ser.
Sou uma pessoa de fácil acesso, extremamente tolerante e paciente, bem disposta. Para mim está sempre tudo bem e muito dificilmente me chateio com alguma coisa ou alguém. E quando acontece, chamo a atenção e tento resolver as coisas a bem, conversando, como pessoa adulta que sou ou tento ser.
Só não tenho paciência para meias palavras, adivinhas ou charadas, braços de ferro e jogos de gato e rato. Passei essas fases todas na devida altura. Ou para que me façam, ou tentem fazer, passar por parva. Agora valorizo o jogo da verdade. Senão, consequência.

Sou uma gaja que se deixa conquistar de cima para baixo, da cabeça para os pés. Primeiro estimulando intelectualmente, depois falando ao coração e só depois… me têm aos pés.
O problema é que o meu coração só fala uma língua, já morta, que muito poucos dominam. E não é o latim…

Também é verdade que sou extremamente individualista. Pelos visto é uma característica das pessoas do meu signo. Vai-se lá saber se é ou não…
Sofro em silêncio, amo em segredo, elogio pouco e não sou de andar aos beijos e abraços a toda a gente e a toda a hora. Mas isso não significa que as pessoas não sejam importantes para mim ou que não goste delas.

Pessoalmente, sou uma pessoa muito fechada, é um facto.
Essa maneira de ser parece contrariar a forma como me mostro no blogue.
Já me disseram que aqui eu me exponho demasiado.
Exponho, é verdade, às vezes e por opção, obviamente. Mas nunca tanto quanto possam pensar. Existe muito mais, muito mais mesmo, que guardo só para mim.
O blogue funciona como um elástico da minha personalidade, que eu gosto de esticar até ao limite. Às vezes, corre mal e rebenta…
É perigoso, para quem não me conhece pessoalmente, acreditar em tudo o que eu escrevo por estas bandas…

Mas, regressando ao tema principal.
Já me devem ter ouvido dizer, à boca cheia, que não preciso de ninguém. E é verdade. Mas, tal como ninguém vive (e quando digo “vive” é no sentido de viver e não, sobreviver) a pão e água, também ninguém vive sozinho.
O nosso organismo, para ser saudável, precisa de todos os alimentos da roda dos alimentos, de preferência naquela proporção.
A nossa alma, ou o que lhe quiserem chamar, para ser saudável, precisa de afecto. Precisa de todos os afectos da roda dos afectos. Sendo que aqui, não existe uma regra nas proporções. Estas variam mediante a personalidade de cada um.
Ou seja, precisamos do afecto da família, dos amigos, dos colegas, de toda a gente e… de alguém.
Se nos faltar um destes afectos, a tendência será compensar com outros ou com outras coisas.
Para uns, alguém pode ser alguém. Para outros, alguém precisa mesmo de ser alguém. É o meu caso.

Se eu quisesse o afecto de alguém, candidatos existem sempre. Falta saber que tipo de afecto me querem dar, é certo.
Aliás, não fosse esta minha obsessão por encontrar alguém, e eu já poderia estar a viver o sonho português há anos: casamento numa quinta, com tudo a que tenho direito – música ao vivo ou DJ, fogo de artifício, etc. – mesmo que não tenha a possibilidade de o pagar; A noite de núpcias toda a contar o dinheiro que se recebeu (até porque estamos demasiado cansados para algo mais, de tanto coimboiinho ao som do imprescindível “Apita o comboio”); A lua-de-mel na República Dominicana ou no México à custa do dinheiro que recebemos como presentes de casamento; Endividar-me até aos dentes com a prestação da casa, dos dois carros, dos electrodomésticos todos topo-de-gama, LCD e Home Cinema; Os filhotes e as idas ao médico, vacinas, carrinhos de bebé (segundo a proposta de orçamento de estado para 2009, com o IVA a 5%) e a mensalidade do infantário; As discussões com o desgraçado por causa da abelhuda da mãe dele ou porque não faz nada em casa ou porque depende de mim para tudo ou porque, na verdade, já não o posso ver à frente mas também já não sei viver sozinha.
Já podia ter isto tudo. Mas eu teimo em esperar…

No entanto, e aqui reside a novidade do discurso, mais que receber o afecto de alguém, tem-se tornado uma necessidade cada vez mais latente, a de oferecer todo o meu afecto, a alguém.
Só que é a eterna questão: tenho uma tendência impressionante para me interessar só por artistas! …
Assim sendo, vou seguindo sozinha... Por vezes indo buscar ao baú o discurso “vejo-te como um amigo”, outras vezes, lapidando um pouco do meu afecto com ou outro que até me faz rir, outras ainda, sem paciência para os aturar.

Verdade verdadeira, acho que estou tão habituada a ser eu, a estar sozinha e a fazer o que me apetece, que desconfio ser muito difícil conseguir reverter a situação algum dia.
Não é que eu não queira. Eu quero! Só não sei se consigo…

Contudo, parece-me injusto que as minhas amigas não torçam por mim…
Eu também preciso! E mereço! Ora vejam: sou boa rapariga; sei cozinhar, lavar e passar a ferro; e até falo francês e toco piano! Que mais querem?! Ok, tenho um feitio difícil… Mas aqui entre nós, tenho outros predicados que, garanto!, compensam esse feitiozinho…

Dizem-me com frequência que eu sou perigosa. Eu vou passar a responder o que respondo quando me dizem que sou bonita: a beleza (neste caso, o perigo) está mais nos olhos de quem vê do que propriamente no “objecto”…

Agora falando sério.
Vamos todos dar as mãos e meditar seriamente no seguinte: os super-heróis têm sempre alguém. Por vezes, até os super-vilões têm. Porque é que esta pseudo-super-mulher não pode precisar, querer e merecer ter alguém? Sendo ela super-mulher ou super-vilã…Pouco importa. Até porque lá no fundo, tenho pouco de super-mulher ou de super-vilã. Tenho muito mais de menina. No fundo, tal como Rita Lee diz, eu sou neném, só sossego com beijinho…

E mais, não digo, até porque já disse demais…
Se não perceberam assim, montem o puzzle.

10 comentários:

Chichas disse...

dass,o que se passa hoje connosco?
Ainda por cima postámos quase em simultaneo

Brunhild disse...

Sim, tb já ri com a coincidência.
Somos uns incompreendidos... E somos obrigados a afogar as mágoas, bem afogadas, no alcool...

Chichas disse...

OMFG! o jc também apanhou! http://ontheroadtosomewere.blogspot.com/2008/10/o-que-importante.html

Brunhild disse...

Será da lua cheia?!... hummm

Chichas disse...

O espírito da Anne Frank baixou em nós

Bruno Ramalho disse...

meu deus... quando vi a ameaça de textos longos nunca pensei... carago que te venha lá a internet bem rapidinho que isto assim um gajo não faz mais nada do que vir praqui ler isto tudo durante o dia. E a produtividade, onde fica? (já o respondeste, tudo arrumadinho e asseadinho no escritório neh? LOL)

Hey, eu torço por ti! (já é mais um, todos os santos ajudam... coff coff) :D

Vais ver, ao virares uma esquina qualquer um dia desses, vais ter um choque que nunca mais te vais alevantar! E isto tudo no bom sentido, porque vais estar tão bem caídinha que nunca mais vais querer levantar os costados da situação que te caíu no colo! (oh well... é bonito acreditar não é?) ehehe

Vai trabalhar oublááá!!! :P

Brunhild disse...

Eu tb torço por ti... Queres o contacto da Célia??? lol

Bruno Ramalho disse...

vamos começar a trocar contactos? Eu conheço alguns artistas! ;D

(ou, mostra-me os teus cromos que eu mostro-te os meus ahaha)

CatFish disse...

Ui... deixei passar este post... isto dava para muito humor, costumo encarar este género de desabafos humoristicamente porque me fazem lembrar a mim :) mas vou esquecer o humor e só digo que se são artistas, tas tramada :/ mas se não o forem também tas :P (não interpretas de forma negativa, não te conheço mas arrisco dizer isso ;) )
Beijinho

Brunhild disse...

Este texto é todo humor :)

Oh, é a velha questão: can't live with them, can't live without...

bj