O meu pequeno génio

Vou conta-vos algo. Vou contar-vos porque já não aguento isto tudo aqui dentro. Mas têm de me prometer que guardam segredo. Combinado?

Desde que trocámos o nosso primeiro olhar cúmplice, depois de umas das suas geniais tiradas, que penso nele como um pequeno génio. Lembro-me de ter pensado que deveria ter sido pura sorte. Não era possível que existisse alguém com aquela capacidade. Mas existe. E não foi sorte. Ele é mesmo um pequeno génio. Eu testei, acreditem em mim. É mesmo verdade!

Como todos os génios, tem génio também no feitio. E eu adoro! Mas vocês não lhe podem contar. Fica entre nós.
Aquele ar de enfant terrible, a forma como diz o que pensa e o que sente, o facto de ser permeável a tudo, quer seja bom ou seja mau. O seu lado polido, sensível e atencioso. Mas nunca em exagero, sempre na medida certa. O seu lado rufia, que faz contrapeso com o seu lado polido, que o impele a odiar tudo e todos.
Mas ele não alterna só entre estes dois tons, ele percorre todos os tons, todas as cores. O que o torna num ser completo. Não há nada que lhe passe ao lado, nada que não compreenda embora possa não aceitar. Porque ele não segue outras que não sejam as suas regras. Cuja regra número um é não existirem regras. E como eu admiro isso nele! Nada de lhe irem contar. Atenção ao prometido. Não é correcto da minha parte incentivar um comportamento tão desregrado mas tão apetecível.

Este pequeno génio caiu do céu, numa noite em que eu descontraidamente fui tomar café com uma amiga. Quem diria que naquela noite eu iria conhecer aquele que se tornaria a pessoa mais importante da minha vida. Aquele que iria deixar-me a cabeça em água, os neurónios fustigados até à exaustão de tanto trabalharem, o coração a bater descompassadamente e aquele que iria virar a minha vida de pernas para o ar. A minha vida, tal como a conhecia, jamais voltou ao que era. E olhem que eu tentei, esforcei-me para conseguir voltar lá. Mas, depois de deixar entrar alguém assim tão marcante e inesquecível, a vida jamais volta a ser a mesma. É impossível!
Mas como eu dizia, este pequeno génio caiu do céu mas diz que eu é que sou um anjo. Este pequeno génio chegou para concretizar os meus sonhos, adivinha os meus pensamentos, as minhas vontades e realiza-as e diz que eu é que sou um anjo. Acham normal?

E já vos falei do seu sentido de humor e da facilidade com que me faz rir? E olhem que eu até sou exigente. Mas as piadas, os trocadilhos, os comentários saem-lhe com uma facilidade aparente impressionante. Coisas de génio!
E impressionante é também o seu sorriso franco que ilumina o seu rosto. O seu olhar firme e penetrante que me deixa as pernas fraquinhas. A sua espontaneidade e a sua expressividade, a maneira como gesticula enquanto fala. O seu temperamento impulsivo.
O olhar um pouco sentido de cada vez que eu estupidamente lhe dirijo um comentário mais ríspido e do qual me arrependo imediatamente.
A forma como se supera, como me surpreende sempre, como me dá mais do que aquilo que peço e provavelmente mereço, como nunca reclama o tão pouco que lhe dou.
A forma como é amigo incondicional dos seus amigos. A sua lealdade. Os seus princípios de vida, aos quais se mantém sempre fiel.

É genuíno, único e lindo. Para mim, o mais belo de todos.
Apetece levar para casa, quer seja ao colo ou pelas orelhas, fazê-lo prisioneiro e encher de mimos.

Talvez por ser assim tão perfeito, bom demais para ser verdade, eu tenha tido tanta dificuldade em aceitar a verdade que sempre esteve à minha frente.

Mas não pensem que ele se mostra assim para todos. Algumas destas características estão escondidas e ele só mostra a quem criteriosamente selecciona. Porque fui uma das contempladas? Ainda não consegui perceber, só sei que estou muito feliz por isso.

Por isso mesmo, guardem segredo do que vos revelei. Não contem a ninguém, principalmente a ele. Quero ser eu a fazê-lo, com calma, com todo o tempo do mundo. Isto e outras coisas. Mas essas outras coisas, eu vou guardá-las para lhe contar, em surdina, ao ouvido, só e unicamente a ele.

Mas já agora, podiam-me fazer um favor. Se por acaso encontrarem por aí este meu pequeno génio, lembrem-lhe que ele se esqueceu de reclamar algo que lhe pertence por direito e mérito: eu!
Digam-lhe que eu sou de ideias fixas e que decidi que ou é ele ou mais ninguém, que tenho saudades dele e que lhe guardo um beijo há muito prometido… Ou muitos beijos prometidos.

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