notícias da clausura

Ando a empanturrar-me de livros e filmes. Deve ser uma forma de (tentar) encher o vazio. Não sei.

No outro dia assisti a um filme, cujo personagem principal, tinha uma divisão da casa forrada a livros.
Muitos poderão cair na tentação de chamá-la de biblioteca. Eu prefiro vê-la como a Divisão dos Sonhos.
Senti inveja, inveja saudável, daquela personagem. Deu-me vontade de forrar, pelo menos uma parede de minha casa, de cima a baixo, com estantes repletas de livros. Uma outra com Cds. E outra com DVDs. Um sem fim de mundos e de possibilidades.

Gosto de livros, de música e de filmes pela capacidade que têm de me fazer voar.
Porque esta sensação que tenho de estar presa, afinal não será tanto à vidinha que levo, mas sim a estar presa dentro do meu corpo.
Deve ser mais ou menos assim que as galinhas se sentem. Deram-lhes asas mas não conseguem voar. Passam a vida a dar às asas, esvoaçam, mas voar, nada. Talvez por isso sejam tão parvinhas e passem a vida a cacarejar. E depois ficam doidas.
Eu pergunto-me o mesmo: para que me deram asas se não consigo voar? Eu bem tento, mas não consigo.
Talvez venha daí o cansaço que se abate sobre mim tantas vezes. Demasiadas tentativas infrutíferas em voar. Cansa!

Tenho toda a liberdade mas não me sinto livre.
Talvez seja o medo que me impeça de voar. O medo do ridículo. Tenho receio que me apontem o dedo e digam "Olha onde já se viu uma galinha a voar?! Deve ter a mania que é pássaro."
Eu, como portuguesinha que sou, tenho o sonho de bater um recorde do Guinness. Mas pretendo ser a gaja que mais vezes foi aumentada num ano. E não a primeira galinha a conseguir voar.

Piadas à parte, que o assunto é sério, gostava de me conseguir libertar.

O meu interior parece um pequeno vulcão, sempre a borbulhar.
Sou ansiosa por natureza, inquieta, curiosa, indecisa e, sobretudo, muito impulsiva. Isto tudo sob uma aparente tranquilidade.
Sou dicotómica. Acho que já o disse anteriormente, a minha personalidade absorveu o principio da dicotomia, pilar essencial da minha profissão. Debito por um lado e credito pelo outro.

Nada é simples para mim. A não ser eu.

Tomar decisões são um martírio. Analiso tudo ao pormenor, racionalizo, dou em doida e depois acabo por mandar tudo ao ar e decidir por impulso.
Há quem chame os meus impulsos de caprichos.
Chateiam-me quando me dizem isso. Porque alguém caprichosa é alguém que usa, abusa e manipula. Eu não faço nada isso. Pelo menos de uma forma consciente.
Chateiam-me quando depositam demasiada fé em mim. Chateiam-me quando se aproximam de mim pela minha aparência, por ser gaja, e se esquecem que aqui mora uma pessoa.
Chateiam-me quando teimam em me enfiar numa caixa rotulada demasiado pequena para mim, onde me sinto asfixiar.

Tal como Clementine (do filme The Eternal Sunshine of the Spotless Minds) só me apetece gritar "Too many guys think I'm a concept, or I complete them, or I'm gonna make them alive. But I'm just a fucked-up girl who's lookin' for my own peace of mind; don't assign me yours." . E eu sei que não é correcto ou justo fazê-lo. Porque provavelmente eu procuro o mesmo noutra pessoa.

Então, o que procuro?... Provavelmente algo que nunca vou conseguir encontrar. Porque as galinhas não voam.
Não quero uma relação. As relações são só uma desculpa para combater a solidão.
Quero interacção! Alguém que grite "esfola" quando eu digo mata. Alguém que me faça gritar "esfola" quando diz mata. Já nem peço alguém que antecipe um "'Tá a apetecer-te matar, não 'tá?".

Eu sei, eu sei... Vejo demasiados filmes, leio demasiados romances... Que posso eu fazer?!... É o mais próximo que arranjei de voar...

3 comentários:

Carpe Diem disse...

Com textos destes e q eu sei o q vejo em ti e o porque gosto tanto de ti... tb eu queria voar e a analogia das galinhas nem e a mais correcta, principalmente se ja viste o filme "Fuga das Galinhas" :)

Pelo menos eu, n quero uma relação q meramente me faça sentir acompanhado... quero caminhar junto, sentir, experimentar, surpreender-me, arrebatar e ser arrebatado, gritar esfola ou mata e, porque não, morrer um pouco de cada vez.

So acrescento que esse filme que referes é estupendo e recomendo-te, na mesma onda, o "The Fountain" e o "No Mesmo Tom".

Beijos esfolados de morte
Nuno.

Brunhild disse...

Pois, nós queremos. Mas, estaremos dispostos a vivê-lo?...

Já vi "No mesmo tom", é um miminho de filme.

bj

CatFish disse...

:) Dispostos? sim.
Disponíveis? aí é preciso perguntar ao gajo que puxa os cordelinhos lá em cima se nos concede um pouco de espaço para sermos arrebatados, para sermos surpeendidos e, muito mais importante, para sermos nós a surpreender.
Infelizmente aos 20+ já 80% das pessoas já leu tanto, e viu tanta m**** na tv, que a capacidade para serem surpreendidas diminui drasticamente. Já nao se cultiva a surpresa, mas sim a rotina. Porque até a mais incrível surpresa, por mais de cortar a respiração que seja, se tornou cliché.
Wellcome to the future.
Bj.