deformação profissional

25 de Setembro de 2008 - 20h10m

Imaginem o seguinte cenário: 37 contabilistas (sim, eu contei, tal era o meu desespero) e um advogado, fechados numa sala abafada e mal iluminada, depois de um interminável e infernal dia de trabalho. Pelo menos, o meu foi.

Agora deixem-me falar-vos acerca desta caricata classe profissional: os contabilistas ou Técnicos Oficiais de Contas, se nos quisermos perder com preciosismos.

Como o próprio nome indica, os TOC são os profissionais devidamente habilitados a fazer contas. Nada mais, nada menos.
Passam o dia submersos em papelada, executando tarefas de carácter exclusivamente prático, onde não há espaço para qualquer tipo de criatividade. Aliás onde não há espaço para nada. A coisinha mais criativa que um contabilista pode fazer é imprimir uma balancete a cores em vez de o fazer a preto e branco. E mesmo isto só está ao alcance dos contabilistas mais audazes. Contabilistas audazes. Gostaram da piada?
Isso da contabilidade criativa é um mito. A bem da verdade, os contabilistas nem exercem contabilidade mas sim fiscalidade. Mas, adiante! Que esta é uma discussão a ter em sede própria.

O contabilista estereotipado é uma pessoa enfadada e enfadonha, incolor, de óculos, incapaz de sair da linha ou de ousar. É o verdadeiro chato.

Para aqueles que estão neste momento a esboçar um sorriso por supostamente ter apanhado a gaja do discurso “abaixo os estereótipos” a fazer uso deles, tenho a dizer em minha defesa que eu sou contra os mesmos quando estes são usados de forma (quase) vinculativa. Obviamente que é impossível não recorrermos a eles. Desde que se tenha sempre bem presente que são falíveis e redutores, e que não passam de meros indicadores. Aliás, como foi o caso.
Porque obviamente nem todos os contabilistas são assim. Eu não sou assim. Estou enfadada, é certo, mas não me considero uma pessoa enfadonha. Serei?! Acho que não. Na maioria do tempo, pelo menos. Uso óculos mas são vermelhos. Estou a usar cores neutras mas tenho um enorme decote. Não sou muito ousada mas é difícil manter-me, ou manterem-me, na linha.

E perguntam vocês, leitores atentos e fiéis seguidores desta contabilista enfadada, se não te identificas com essa profissão porque a escolheste?
Ora aí está uma excelente questão! Ainda bem que a colocaram.
Também eu me pergunto recorrentemente como vim aqui parar. Acho que não fui eu que a escolhi, foi ela que me escolheu. Eu só senti o chamamento.
Eu estava tão bem encaminhada para seguir artes. Digam lá se eu não ia dar uma artista e tanto. Já com o processo de transferência diferido para a Escola Secundária Soares dos Reis, o berço dos nossos artistas. E, de repente, à última hora, isto é impulse! Deu-me um dos meu tão característicos vipes e eu resolvi voltar atrás e seguir Economia. Jogar pelo seguro, no fundo.

Na verdade eu não me arrependo. Também não adiantava nada arrepende-me.
Sempre é preferível assim. Porque é perfeitamente viável pincelar com arte o mundo a preto e branco da contabilidade. Portanto, consigo ter as duas. Aliás até me dizem muitas vezes “Tu é que és artista!”.
No caso de ter seguido artes, provavelmente, nem o meu extracto bancário conseguiria entender. Isto partindo do princípio que até ia ter um.

Mas, regressando ao assunto.
O contabilista é a pessoa que mais sabe sobre a empresa, é o faz-tudo e tudo sabe. No entanto, no que se refere à tomada de decisão... Não é da sua competência.
O contabilista não corre riscos. De qualquer tipo. O Princípio da Prudência, um dos pilares da contabilidade, não permite.
Portanto, a essência do contabilista é ser aquela pessoa certinha e direitinha, que nunca parte um prato.

À minha frente tenho o formador, um advogado, a debitar palavras quase à velocidade da luz. A debitar palavras à velocidade da luz para pessoas que só lidam com números. Imaginem as expressões faciais e corporais dos formandos.

Não consigo deixar de me perguntar se haverá profissão tão oposta à de contabilista quanto a de advogado. Isto é quase como tentar dissolver uma gota de azeite em água.
Mas ele está a esforçar-se. De vez em quando diz umas piadas, bem básicas, que é para o pessoal conseguir perceber. Há pouco puxou por uma e só uma pessoa se riu.

Humm... Curioso! Os advogados, pelo menos os que conheço, têm todos o mesmo sentido de humor.

Estou enfadada até aos ossos. Estou a bater pestanas desde que entrei e ainda faltam duas horas para este suplício terminar. De cada vez que me lembro que ainda tenho mais uma semana deste inferno, só me apetece é saltar pela janela. (Por acaso, a única coisa que esta sala tem de bom é a vista: o rio Douro.)
Parece que voltei ao ensino superior mas sem a parte boa: andar sempre bêbeda e baldar-me às aulas.

[Disse o formador agora: para os TOC – denominação politicamente correcta, como convém – 2+2=4. Para um advogado é o que ele quiser, desde que consiga defender. Agora é que ele disse tudo!]

E as minhas férias, estão para ser ou está difícil?
Planear fazer tudo e mais uma coisa e acabar as férias sem fazer nada.
Acordar tarde e a más horas. Andar pela casa em pijama e descalça. Cansar-me até à exaustão precoce de tantas piscinas fazer da cama para o sofá e do sofá para a cama. Arrumar de vez a tralha toda antes que isto se torne a FIC (Feira Internacional de Custóias).

Estou tão cansada que já nem sei que disparates escrevi, a quantas ando, o que digo ou que o faço.
O meu cérebro entrou em modo Função-Pública-às-cinco-da-tarde-de-sexta-feira: “estamos sem sistema”. Volte segunda-feira, às nove.

Por agora, só peço para que isto hoje acabe cedo, de modo que eu possa ir para casa, tomar um enorme banho com tudo a que tenho direito e...cama! Mesmo sem jantar, que estou tão cansada que nem apetite tenho. Talvez fume um cigarro de substituição e tiptop!

E pensar que hoje de manhã (parece que já passaram dias, desde esse momento) fazia planos de ir ao Batô.
É já a seguir!...

5 comentários:

Bruno Ramalho disse...

pois, eu estava cá a pensar para os meus botões... então ela vai ter assim muita pica para ir até ao batô?!? Eu já me estava a sentir velho e a pensar "bom se for ao batô amanhã trabalho com o teclado e o monitor debaixo das pálpebras". ;D

Anónimo disse...

Tu não me conheces, pá! Claro que era gaja p ir ao Batô! Mas o dia de ontem foi mesmo infernal. Se fosse ao Batô era p aterrar nos sofás e vir trabalhar directa.

Fraquinho!... ;D

Brunhild

Bruno Ramalho disse...

olha que lata, não foste, dizes que aterravas nos sofás, e chamas-me a mim fraquinho??? Pffff...

(ontem também era certinho que aterrava nos sofás)

(ah não, espera, lá fuma-se)

(era o soninho do jáfumega)

(ou isso)

LOL ;DD

Carpe Diem disse...

Agora fiquei absolutamente triste, atão tu usas decote e n mostras a mim? Eu quando te vi parecias uma freira (mas com oculos vermelhos, oh tentação!!), pelo menos olhei-te nos olhos :))))

Agora a serio, eu revejo-me em muito do que dizes, tb queria ser outra coisa (jornalista, escritor) mas acabei em gestor (e bancário ainda que analisando crédito num serviço central)... mas ha uma vantagem, eu posso ser criativo e dizer que não gosto de alguma coisa.

Só discordo de uma coisa, no meu work ja vi muita contabilidade criativa e até engenhosa...de certeza que os contabilistas não sonham a preencher os documentos?

Beijos e tu es aliciante e nada enfadonha!!

Brunhild disse...

Vieste à inbicta num fds mto mau. Já te disse!

Nuno, um dos pré-requisitos p entrar p contabilidade é ser desprovido da capacidade de sonhar.
Esses documentos q falas devem ter sido preenchidos pela gerência ou pela administração, ou p um estagiário do dpto de contabilidade. Nunca, jamais, por um TOC!...