Os meus amigos têm sido muito prestáveis, ouvem-me, aturam-me com paciência, mesmo quando eu só digo disparates e até me têm presenteado com a sua sabedoria. Dos conselhos e achegas que me têm dado, retive três.
As palavras que me dirigem nunca caem em saco roto, mesmo quando eu pareço distante, desinteressada ou a leste.
Continuando, aconselharam-me a deixar de ser tão retraída, a perguntar mais e tentar adivinhar menos, a ser mais prática, a arriscar mais; Aconselharam-me a, quando algo de bom me acontecer, não questionar. Simplesmente, agarrar com as duas mãos com toda a força que tiver e não deixar fugir; E aconselharam-me a desfazer-me da lente cor-de-rosa (sábia amiga!).

Tudo porque este ano, não foi bissexto, mas foi ano de me apaixonar. E mais uma vez, deitar tudo a perder. Sempre fui assim, desde o tempo da primária. Tenho chumbado com mérito a esta disciplina, com direito a presença no quadro de honra e tudo. Continuar assim aos trinta, é frustrante e vergonhoso. Adiante!

Falta de inteligência emocional? Não me parece. Insegurança e muita descrença no sexo masculino? Provavelmente. Medo de sofrer? Com toda a certeza.
É sempre o mesmo filme de terror! Quando o perigo surge, é o pânico. Escondo, dissimulo, fujo, empurro, até conseguir expulsar definitivamente. E claro que depois a responsabilidade nunca é minha. Eu faço sempre tudo bem. Eles é que não têm o super poder de conseguir adivinhar o que eu sinto, o que eu quero que digam e façam. E mesmo quando parecem ter, nunca é suficiente.

Se calhar escrever isto ao som do Adagietto de Mahler não é lá muito boa ideia. Mas seja!...

Porque é que eu sou assim?

Há uns posts atrás, aconselhei a que vissem os clássicos do cinema. Fui muito injusta naquele post. E o problema coloca-se precisamente ao contrário: eu vi e faço filmes a mais. Romanceio demasiado, fantasio, suspiro, idealizo. Procuro um ser perfeito que nunca vai aparecer. Porque a perfeição é um ideal. Porque esse ser perfeito funciona como a cenoura à frente do burro, neste caso, burra. A maldita lente cor-de-rosa que me impede de aceitar as coisas como elas são e arriscar. Nunca. Nunca cedo, nunca arrisco. Exijo sempre mais sem dar nada em troca. Desta última vez então foi o descalabro total. Talvez por isso me sinta tão estúpida, tão infantil, tão mal. Não fui capaz de dar uma mão, nada! Talvez porque me senti verdadeiramente em risco, desta vez. Houve alturas em que acreditei. Foi a única vez que senti mesmo vontade de me atirar em queda livre.

Porque é que eu sou assim?

Todos os dias detecto um “se”, um “mas”, um “talvez”, conjugado a um “seria?”. De nada adianta a esta altura do campeonato. Só serve para me atrofiar a cabeça. Eu até acho que é mesmo disso que eu gosto. De acreditar na minha história, na minha versão dos acontecimentos. Gosto de acreditar que fui correspondida mas que as coisas não se proporcionaram. Afinal, os melhores filmes acabam sempre com os protagonistas a levar as suas vidas em separado. Romantismo e lirismo. Bela dupla! Não é à toa que, na música erudita, o meu período preferido seja o período romântico. De preferência, a escola alemã e russa.

Mas porque é que eu sou assim?

Talvez porque acredito de mais, ou de menos. Talvez porque seja demasiado insegura para acreditar que alguém seja capaz de gostar de mim como mereço. Talvez porque me falta maturidade emocional nesse campo. Talvez porque ainda não tenha aparecido a pessoas certa. Talvez porque não tenha a capacidade de entrega necessária. Talvez porque sofra de síndrome de prima-dona e só queira ser bajulada. Talvez porque tenha muitos amigos gajos e veja como eles lidam com estas questões. Talvez porque seja céptica em relação à capacidade dos homens serem verdadeiros e leais. Talvez porque não seja talhada para um dia dizer “Amo-te” a alguém ou pedir a alguém que me ame. Talvez muita coisa.

De nada me adianta tentar convencer-me que da próxima será diferente porque, quando acontecer, daqui por dez anos, eu já terei esquecido os erros que cometi e irei comete-los todos sistematicamente, a papel químico.
Voltarei a não agarrar a coisa boa que a vida me ofereceu. Voltarei a querer que ele chegue de cavalo branco e me arrebate inesperadamente daqui para fora. Sem que tenha de mexer uma palha. Como se isso fosse possível na vida real...

1 comentário:

Carpe Diem disse...

Tudo o que dizes pode ser real desde que abras o teu coração...há pessoas que te adoram e eu sou um deles.

Será q consegues esperar q leve o meu cavalo branco ate ao Porto? Ou é pedir muito?

Gostei muito do texto pela força e pela forma como demonstras a pessoa bonita e sincera que és.

Aqui estou, beijos grandes
Nuno.