Dois dias bons

Hoje é dia de ter a casa cheia, mais de vinte pessoas à mesa. E, para mim, o Natal não é senão isso: a reunião familiar.

Tenho a sorte de ter sido criada na melhor família do mundo. Uma família unida, grande, solidária, bem humorada, carinhosa, conservadora, faladora, humilde, interessante, lutadora, fiel aos seus princípios, leal aos seus, que discute e abraça com a mesma paixão e que defende os seus acima de qualquer coisa. É sem dúvida um porto seguro onde posso atracar para retemperar forças e rir muito.

Já sei que logo vai ser a confusão total: toda a gente a falar alto, a discutir, a rir, a brincar.

É ver o meu primo P. a dar uma palestra sobre uma descoberta científica nova qualquer, que ainda ninguém tinha ouvido falar. É ver o irmão dele a rir-se embevecido das palavras do irmão. É ouvi-los falar sobre o último concerto da banda. É ver o meu priminho D., futuro craque do FCP (antigamente é que os pais queriam que os filhos fossem médicos…), andar a desafiar um dos primos para ir brincar com ele. Ouvir os planos de futuro da minha única prima.
É ouvir as minhas tias implicarem com os meus tios por estarem a beber demasiado e não deixar de sorrir pela situação. Pelo menos a minha mãe não tem essa preocupação. O meu pai não vai conduzir. Além disso, ele só passa da conta quando dá uma de tasqueiro e prepara receitas. E essas patuscadas só acontecem no Verão.
É a minha irmã agarrada à máquina fotográfica ou à máquina de filmar.
É esperar pela meia-noite para distribuir os presentes. É o meu irmão vestido de Pai Natal com o meu priminho ao colo.
São os vizinhos, uma extensão da família, que aparecem para cumprimentar.
É o chocolate quente da minha mãe já de madrugada…
É ir dormir com o coração quentinho.

E, no dia seguinte, a reunião repete-se. Toda a gente volta a reunir-se à mesa.
Sabe tão bem ter a casa assim cheia de gente, da nossa gente.

Por tudo isto, desculpem-me se dispenso os jantares de Natal com pessoas que mal reconhecem a minha existência durante o resto do ano. Podem chamar-me choca e tudo o mais que quiserem à vontade. Eu deixo. Recuso-me a entrar nessa farsa.
Desculpem-me se fico triste de cada vez que recebo uma sms pré-fabricada de alguém. Quase chego a preferir que não me tivessem enviado nada.

E desculpem-me se por vezes sou intransigente, injusta e dura. Fui criada nesta família, foi assim que aprendi. Se o faço, é porque me preocupo, é porque gosto demasiado.
São poucos aqueles amigos que compõem o meu núcleo duro mas são bons. São os melhores do mundo. Vocês são a família que eu fui escolhendo ao longo destes anos. Uns há mais tempo, outros mais recentes, são todos importantes para mim. Talvez não façam ideia do quanto são importantes para mim.
Adoro-vos!

A todos, BOM NATAL!

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