É como regressar a casa.
As pessoas abrem os braços para nos receber mal nos vêem. Cobram a nossa ausência. Quase acredito que fiz falta. Perguntam como estou e esperam, com aqueles olhos fixos em mim, pela resposta. “Estou bem”, respondo.

Mais uma cara conhecida. Dirige-se a mim com um sorriso sincero. Mais um abraço. Diz-me que estou diferente e fica a olhar para mim a tentar decifrar o que mudou. Pois estou, penso. Mas não digo. Limito-me a sorrir e uso o cabelo como desculpa. Diz-me que sim, que deve ser isso. Da última vez estava com ele preso. “Não sei. Não me lembro.” Mas desta vez não me lembro mesmo.

O meu copo de vinho do Porto já se encontra na mesa. Podem começar. As palavras começam a surgir e a reverberar cá dentro. Do outro lado da sala uns olhos em mim. É o senhor que desenha. Sorrio. Não me desenhe hoje. Hoje não. Hoje só vim mesmo pelas palavras. E pelos abraços.

Dedicam a primeira parte a um poeta que está presente. Tem um olhar focado mas quente, alguma melancolia e muita doçura. Devolvo-lhe o sorriso que me oferece. Ali toda a gente sorri para toda a gente. Sorrisos sinceros. Sorrisos de quem está em sintonia. Sorrisos provocados pelas palavras que ele alinhou e que agora alguém repete em voz alta. “São de pedra as lágrimas que te atiro por não saber como chorá-las”.

O senhor da voz grave dá início à segunda parte. Bonito poema. A acompanhá-lo o rapaz da guitarra acústica. Segue-se o senhor que medeia a noite. Depois o rapaz mais novo. Seguido do senhor alto e de óculos.
O rapaz alto e de olhos vivos, sentado no bar, levanta-se e reclama a presença de uma voz feminina. Hoje ele não quer ler. Também só está ali pelas palavras. Eu hoje também não quero ler. Hoje não.

Já é tarde. A sala está cheia de fumo. Está na hora de ir. Um amigo dá-me um abraço. Eu estou bem, digo-lhe com um sorriso. É inevitável. São as palavras. Foi por elas que eu vim. É com elas que eu vou.
Despeço-me. Dão-me um abraço e dizem-me “fica bem”. Sorrio e respondo baixinho para mim “vou ficar”. “Até para a semana”, diz-me sorridente o senhor dono do espaço.

1 comentário:

Carpe Diem disse...

Tens de me levar a esse espaço quando ai te for visitar, parece-me muito interessante.

Fico feliz por sentir que estas melhor e espero que continue a ver essa tua alegria de viver.

Beijos com saudade
Nuno.