reality check

Também em mim há sobretudo cansaço. Mas também existe desilusão e desencantamento. E como odeio esta palavra e tudo o que ela significa.
Perseverar também cansa e muito. Eu nem me considero uma pessoa pessimista. Pelo contrário, prefiro sempre pensar que, pelo menos, o copo não está vazio, mesmo quando só restam umas gotas. Mas está difícil.
Sinto-me uma locomotiva, de um comboio velho, perro e obsoleto. Cansada de puxar por carruagens que teimam em não sair da estação onde apearam.

Talvez tenha só nascido no país errado. A gente da minha terra é por defeito cinzenta, melancólica, inerte, mesquinha.
Talvez tenha só nascido num tempo que não é o meu.
Ou talvez, tenha errado ambos: tempo e espaço.

O que eu desejo é tão básico e simples que, nos dias que correm, chega a soar a falso e a ridículo aos ouvidos das outras pessoas. Há quem duvide que fale a verdade e há até quem não acredite de todo. Logo eu, que não minto, que não suporto a mentira, que desprezo quem engana.
Mas a verdade é que apesar de desejar algo tão básico e simples, essa realidade parece-me cada vez mais uma utopia, cada vez mais distante, difícil de atingir. Deveria ser assim tão difícil?

Olho para o lado e vejo as pessoas envoltas nas suas vidinhas: estudar, trabalhar, casar, pagar a prestação da casa e as despesas inerentes à sua manutenção, a prestação do(s) carro(s), ter filhos. Será que as pessoas pensam bem antes de tomar estas decisões? Talvez o mal seja meu, talvez pense demais. Mas, as criancinhas não pediram para existir. Têm noção do que vão fazer, para onde as vão trazer? Há tantas crianças ao abandono, a pedirem por uma oportunidade, por atenção e carinho. Porque não optar pela adopção, por exemplo? Realizar o sonho de uma dessas crianças? Há quem gaste fortunas e passe anos a tentar ter filhos. Não compreendo essa necessidade das pessoas em terem filhos. Eu costumo brincar dizendo que passar, no mínimo, nove meses sem beber e sem fumar é logo condição para nem pensar no assunto. Tem o seu quê de verdade. Mas, no fundo, eu não considero é que fosse imprescindível que a criancinha saísse cá de dentro para a sentir mais minha.
Decisões irreflectidas e um pouco egoístas.
Depois os casamentos dão para o torto. Pelo menos agora já nem é preciso sair da secretária nem despender de muito tempo para obter o divórcio. Basta uma ligação à Internet (de preferência em melhor estado que a daqui do estamine) e de meia-horita.
Mas este assunto eu já abordei em tempos passados e não me apetece voltar lá. Está mais que debatido e eu já estou a divagar.

Voltando à questão do cansaço e do desencanto.
Quem me conhece sabe que eu sou do tipo amiga-galinha. Gosto de ter todos debaixo da minha asa e saber que estão bem. E faço-o porque é a minha forma de gostar. Não pretendo créditos extra por isso ou qualquer tipo de reconhecimento. Faço-o porque quero, porque gosto de o fazer. Mas, de vez em quando, a amiga-galinha gosta de se metamorfosear em águia e voar livre, sozinha, sem amarras de qualquer tipo. Sem que isso signifique que eu goste menos ou me preocupe menos.
Tentem não me julgar ou exigir mais do que posso dar. Eu não sou perfeita, nem infalível. Tenho os meus defeitos e cometo os meus erros, como toda a gente. Mas também não sou orgulhosa e quando vejo que errei, peço desculpa, tento remediá-los o melhor que sei.
Quem me conhece também sabe que nem sempre estou alerta, atenta aos pormenores. Que há alturas em que ando distraída e que para determinado tipo de situações sou despistada. Não o faço por mal. Quando for assim, tentem falar comigo. Não façam chantagem emocional, não amuem ou digam de fininho. Sabem que eu nunca cedo a chantages ou a amuos. Eu acredito que tudo se resolve com uma boa conversa franca. Eu sei que disparato com alguma facilidade e que isso por vezes intimida. Mas é só golpe de vista, eu sou uma pessoa acessível. Deveriam saber disso, não?

Já me perdi novamente e não tenho tempo para mais.
Continua...

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