melancolia moderna *

* por João Luís Ferreira, Geração de 60.


Os caminhos da modernidade levam-nos por uma contradição em que muitos se deleitam, por gostarem de se deixar arrastar pelas seduções da doce ilusão da felicidade efémera e, presumidamente, sempre reconstruível. Vivemos, contraditoriamente, de efémero em efémero numa compaixão de nós próprios que não nos deixa ver além dos sentidos: o mundo reduzido aos prestígios de engenharias sentimentais.
Dificilmente percebemos que nos enganamos a nós próprios, porque fazemos da vida um filme em que somos a personagem principal, sem termos a humildade de nos disponibilizarmos para os outros e, assim, para nos encontrarmos a nós mesmos. Vemo-nos de fora de nós sem nos fazermos outros de nós. Somos para nós próprios a imagem que fizemos de nós a partir de fora de nós. Sem centro nem reflexo, vagueamos incertos e insatisfeitos.
Não estamos, não somos, efectivamente presentes: derivamos sem destino, à espera, nem sabemos bem de quê, até que um dia descubramos que é tarde para recomeçar. Mesmo assim não será tarde demais, se tal dia de facto chegar. Até lá cheiramos as flores mas o seu aroma não se impregna no nosso ser profundo, envolto em teias de compromissos em que estamos ausentes e em que nos escondemos de nós próprios.
Admitimos que é uma condição do tempo, admitimos que não somos os únicos e o espírito da heroicidade não nos habita, nem sequer nos visita. Desistimos. Vamos procurar longe o que teimamos em não encontrar perto. Cegamos a nossa esperança a troco da possibilidade de viver vidas que não são a nossa. Não nos reconhecemos no palco do nosso teatro. E é como estrangeiros que presumimos que toda a nossa felicidade está lá ao fundo, nas nuvens que passam, como o estrangeiro de Baudelaire.
Transformamos tudo num jogo, num entretenimento, numa pretensão. Caímos no insuportável niilismo com justificações e discursos à cerca de nós próprios e do mundo em que vivemos mas que não construímos, nem conservamos. Contemplamo-nos e enchemo-nos de compaixão de nós próprios. Nada permanece para nós, em nada nos fixamos, tudo abandonamos. Insatisfeitos, insaciáveis, inconsequentes.


O Estrangeiro de Charles Baudelaire

— De quem gostas mais homem solitário? De teu pai, de tua mãe, de tua irmã, ou irmão?
— Não tenho pai, nem mãe, nem irmãos.
— Dos teus amigos?
— É uma expressão de que não sei o sentido.
— Da tua pátria?
— Não sei onde está situada.
— Da Beleza?
— Amá-la-ia se a conhecesse, e a sua imortalidade.
— Do oiro?
— Odeio-o tanto como vós a Deus.
— Então que amas tu, singular estrangeiro?
— Amo as nuvens... as nuvens que passam... lá longe... as maravilhosas nuvens!




João Luís Ferreira aborda um tema muito interessante!

Pois eu recuso-me a seguir esta nova tendência, Primavera-Verão 09, que qualquer forinha ou pseudo segue. Sem esquecer de usar o blasé. É imprescindível! É um must have desta tendência.

Tendência pautada pelo facilitismo. Essa é que é essa! Algo que eu me recuso a usar, seja em que circunstância for. Não me fica bem.

Desistir?! Apetece a toda a gente, a toda hora. No entanto, desistir, seria demasiado fácil.

Eu gosto muito das nuvens, lá longe. Gosto de me perder nelas. Mas, acima de tudo, amo o sol!

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