(The strange case of Benjamin Button)
Posso fechar os olhos e viajar no tempo, só por um bocadinho? Só o tempo de voltar a sentir. Só o tempo de o recordar. O olhar, o sorriso, os gestos. Posso?
Prometo que só vou até onde é bom recordar. Ao que guardei.
Posso colocar uma música? Uma das muitas. Posso? Quero esta. Dos primeiros tempos. Do início. Em modo repeat.
Prometo que não choro. Prometo que só fico o tempo necessário para recordar. Assim que ameace doer, eu regresso.
Posso recordar os encontros? Tantos. Tão poucos. Sempre a saber a pouco. Sempre mal aproveitados. Sempre convencida que teríamos muitos pela frente.
Posso recordar as conversas? O que dissemos. O que não dissemos. O mais importante fica sempre por dizer. Tanto que ficou por dizer. Temos tempo, pensava.
Os sorrisos e as gargalhadas. O encontro dos olhares. A forma como me prendia. O desejo. A vontade do toque.
A certeza absoluta.
O sentimento.
E posso recordar o beijo? Aquele que ficou prometido. Sempre adiado.
Agora posso chorar? Eu sei que prometi. Mas apetece-me. Preciso. Só um pouco. Ninguém saberá. Não me faz mal. É tranquilo, resignado. Só para mim. Só por um bocadinho. Só para ter a certeza que me encontro aqui. Só para ter a certeza que não se tratou de algo que alguém me contou. Só para ter a certeza que foi real. Que é sentido. Posso?
Apetece-me tanto.
Posso recordar as palavras? Posso? Sei que não devo. Sei que é melhor não o fazer. Sei que corro o risco de me perder no tempo. Sei que posso acabar por ficar mais tempo do que aquele que disponho. Que é pouco. Muito pouco. Sei que palavra puxa palavra. Sei que as palavras me acabarão por levar onde não posso ir. A um tempo que me está vedado. Pelo próprio tempo.
Tenho de voltar. Apetece-me mais. Apetece-me demasiado. Apetece-me ficar.
Tenho de ir.
Boa noite, benjamim.
Álbum: raízes
Há 12 anos
Sem comentários:
Enviar um comentário