Segundo a mitologia romana, Cupido, que encarna a paixão e o amor em todas as suas manifestações, andava sempre com seu arco, pronto para disparar sobre o coração de homens e deuses.
Pois a mim, o Cupido costuma acertar-me em cheio no calcanhar.
Bem! Na verdade, tem acertado mais no tornozelo que no calcanhar. Mas isso agora não interessa nada!
E perguntam vocês: "Brunhild, no calcanhar? Não estamos a perceber. Explica lá isso."
Muito bem, se pedem, eu explico.
Sim, o Cupido costuma acertar-me no calcanhar. No meu calcanhar de Aquiles: o sentido de humor.
Quais palavras doces e ternas, quais elogios rebuscados, quais declarações de amor apaixonadas, quais jantares à luz das velas, quais presentes originais e atenciosos, quais olhares lânguidos.
Se me querem prender a atenção, façam-me rir.
O problema é que, apesar de ter sorriso fácil, fazer-me rir, não é tão fácil quanto isso.
Não suporto engraçadinhos. Aquele tipo fanfarrão, que faz piadas sobre tudo e sobre todos, a torto e a direito. O tipo que utiliza o sentido do humor para chamar as atenções para ele. O tipo que debita piadas de outros ou pré-fabricadas. O tipo que quase tem uma derrame cerebral para se sair com uma boa piada e depois passa a noite toda a repeti-la. Passo!
De que é que eu gosto?
Do tipo que esteve o jantar todo sossegado, na dele, com sorrisos escarninhos e comentários sagazes, feitos discretamente, aparentemente só para seu próprio deleite.
São os mais perigosos, dizem vocês? E eu não sei?!
Ao primeiro comentário certeiro, lanço-lhe um olhar inquisidor: acabaste de insinuar aquilo que eu estou a pensar?
O segundo comentário já é acompanhado de um olhar disfarçado na minha direcção.
E a esta altura já perdi quase por completo o meu interesse pela conversa, que já me começava a cansar, confesso. E transfiro a minha atenção para aquela alminha.
Tendo conseguido aguçar-me a curiosidade, o resto já é comigo.
Quando rio, esqueço-me da postura e cedo. Desconcertadamente.
Entre uma gargalhada e outra, esqueço-me do perigo. Distraio-me!
Quem me consegue fazer rir, tem-me nas palminhas. (Eu nunca disse isto!)
Este meu ponto fraco é tão fraco, que eu até já resolvi estudar o caso.
Infelizmente, os livros que preciso têm de ser importados. Pelo que, ainda vão ter de esperar pelas conclusões.
(Aposto que estão em pulgas!...)
O grande senão em relação ao sentido de humor, é quando o jogo sucede ao contrário. Quando quem lança os comentários ou as piadas, sou eu. E quando o olhar inquisidor é lançado da outra parte.
A grande diferença é que, enquanto o meu olhar inquisidor é servido com um brilhozinho nos olhos, o olhar inquisidor da outra parte é servido com desconfiança. Tipo, esta gaja sabe mais do que aquilo que diz. É perigosa.
É nesta fase que PUF!, todos os mimos e atenções que lhes dei são varridos da memória e que eu os sinto a ficar de pé atrás, desconfiados, cheios de medinho.
(A fase seguinte é aquela em que eu perco a paciência e mando tudo para o espaço.)
Gostava de perceber mas ainda não consegui, e se alguém me conseguir explicar eu ficar-lhe-ei eternamente grata, o porquê dos gajos se sentirem ameaçados por uma gaja inteligente. Passo o pretensiosismo. Até porque são eles que o dizem.
Gajas inteligentes, sim. Mas q.b.. Só até um Q.I. inferior ao deles. Igual, fica difícil. Acima, nem pensar. Nem é possível.
O Q.I. da gaja ideal é aquele que, numa reunião de amigos, permite que ele brilhe, porque ela sabe o que diz e até anda relativamente informada, mas sem lhe fazer frente ou ofuscar. Que permite que a gaja saiba coordenar as texturas e as cores da indumentária que enverga. E que permita que ela compreenda e aceite tudo o que ele diz, sem questionar ou refutar.
Eis o busílis da questão: não era suposto nós sermos o sexo fraco, da futilidade, por defeito? Então, não percebo! Porque são os gajos que procuram as gajas bonitas e, de preferência, pouco inteligentes? Porque são eles que se deixam levar somente pela aparência? Porque são eles que são pouco exigentes?
Alguém me explica?
Deixem lá! Já tentaram e não conseguiram. Eu sou burrita. Há coisas, muitas coisas, que eu não compreendo.
De forma a nunca mais incorrer no mesmo erro, elaborei uma lista de situações a evitar que, obviamente, irei partilhar.
Já a seguir!
Álbum: raízes
Há 12 anos
4 comentários:
isto é pura ficção ou houve mesmo um palerma ?
Tudo ficção!!! Só um?! :D
pareceu-me tão real............
é a história da minha vida! resumida e compilada num só volume.
quem somos nós para afirmar o que é real ou não. só conhecemos uma versão da estória... será essa a realidade? ou será só a nossa versão da realidade? se assim for, até que ponto a podemos chamar de real?
assim sendo, tudo ficção!!! :D
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