Tenho saudades deles

Bem me parecia que devia insistir na minha não-vontade de os conhecer! Ainda consegui durante alguns tempos fugir a um teatime, a um jantar sem propósito e outras tentativas mal disfarçadas de me colocar frente a frente com eles.
Só não consegui fugir naquele fim de tarde em que tive que ir lá a casa buscar a chave do teu carro para fazer os malditos 600 km que nos separavam.

O meu coração batia pequenino e apressado. Não só porque eram eles, mas porque imaginava mil e uma coisas acerca da sua opinião a meu respeito. Porque era mais velha 10 anos, porque tinha uma filha, porque não tinha pai nem mãe para apresentar, porque era/sou dona e senhora do meu nariz.

Não fazes idéia de como foi bom aquele primeiro contacto, as primeiras palavras e o abraço que ela me deu de boas-vindas á vossa vida.
E o olhar grande azul dele que me agarrou de imediato enquanto me explicava todas as manhas do descapotável.
À despedida disseram que não iriam dormir enquanto eu não telefonasse a dizer que tinha chegado.

Nunca ninguém ficou sem dormir á espera que eu chegasse a algum lado!

Fiquei presa pelo coração e nunca mais deixei de lá ir a casa. Até zangava contigo por uma ou outra palavra menos agradável que lhes dirigias.

Eu sei que posso lá ir sempre que me apetecer,que vou ser acarinhada como sempre fui e como se nada tivesse mudado.
Mas não consigo.
Já passei á porta, até parei na esperança de ver um ou até os dois.
Limito-me a uns telefonemas fugazes em dias de festas ou porque há uma chamada não atendida no meu telemóvel.

Tenho inveja de ti porque tens aquilo que eu nunca tive.

Tou zangada comigo porque inevitávelmente irias levá-los contigo quando eu batesse definitivamente a porta.

Tenho saudades daquilo que de melhor tens: Os teus pais!